Reaproveitamento do material garante menor descarte na natureza e viabiliza projetos com mais agilidade.
Muito comum no Japão e na Europa — principalmente na Holanda e na Inglaterra – esse tipo de aplicação se destaca pela facilidade no deslocamento e expansão do projeto. “Já se tornou uma prática consolidada que atende a uma grande diversidade de usos”, afirma Túlio Tibúrcio, professor adjunto do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Viçosa.
No Brasil, o conceito ganhou força por meio da apresentação de protótipos em eventos de arquitetura e decoração
Túlio Tibúrcio
Segundo Arthur Norgren, engenheiro de produção mecânica e sócio-fundador da contain[it] no Brasil, a onda de projetos arquitetônicos com esse elemento demorou para crescer. “Eles eram usados de forma mais rudimentar, para escritórios e depósitos de canteiros de obras”, constata. Tibúrcio completa: “no Brasil, o conceito ganhou força por meio da apresentação de protótipos em eventos de arquitetura e decoração”.
DO TRANSPORTE DE CARGAS À ARQUITETURA
O container tem vida útil aproximada de 20 anos – varia conforme o tipo de material que transporta e fatores externos aos quais ele fica sujeito, como a maresia. Após esse período, seu reuso aponta potencial como estrutura modular para construção civil, pois é um material superdimensionado. “Dado que é feito para suportar até 25 toneladas de carga e pode ser empilhado em até 8 unidades em cima de um navio”, argumenta Norgren.
Para ser utilizado na arquitetura, o container passa por um processo de tratamento e recuperação que inclui limpeza, funilaria, serralheria, pintura, revestimentos e acabamentos. “Tudo varia em função do projeto e do que o cliente quer”, explica Norgren. A preparação da estrutura é feita na fábrica e in loco, dependendo das características de cada projeto — como as dimensões do container utilizado. Guindastes e caminhões muncks transportam o material para o local de instalação.
Laudos de habitabilidade e de descontaminação contra agentes químicos, biológicos e radiativos são documentos que certificam a segurança do container como estrutura da construção.
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VANTAGENS
A aplicação do container na construção civil é sustentável pelo próprio reuso do material. O aproveitamento representa um descarte a menos na natureza. No entanto, práticas socioeconômicas devem ser adotadas para validar esse conceito. “Não adianta fazer um projeto que dependa de muito ar condicionado (e, portanto, energia) e achar que, só porque reusa containers, é sustentável”, alega Norgen.
Não adianta fazer um projeto que dependa de muito ar condicionado (e, portanto, energia) e achar que, só porque reusa contêineres, é sustentável
Arthur Norgren
Além do fator sustentabilidade, o container garante economia. Na instalação, por exemplo, não requer serviços de fundação e terraplenagem. “Os containers se apoiam nos quatro cantos, então é possível calçá-los”, explica Norgren. Por ser uma estrutura modular, possui maior velocidade na execução do projeto em comparação a métodos convencionais. Dispensa, ainda, o canteiro de obras.
A construção modular também simplifica ampliações à planta original sem demandar grandes reformas e permite que o container seja desmontado e transportado para outro terreno. “O projeto pode ser facilmente modificado, atendendo a demanda por flexibilidade”, conta Tibúrcio.
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CONFORTO TÉRMICO
Existem diversas soluções para climatizar construções com container. Materiais de isolamento, como revestimentos térmicos e pinturas reflexivas são algumas soluções. O conceito de arquitetura bioclimática também é uma alternativa — sem contar que contribui para a sustentabilidade do projeto. “O ideal é que se faça um estudo de conforto térmico, iluminação e ventilação”, aponta Fabíola Siqueira, arquiteta especializada em construção sustentável e diretora executiva do escritório ConceitoA_ Arquitetura Sustentável.
O projeto pode ser facilmente modificado, atendendo a demanda por flexibilidade
Túlio Tibúrcio
Norgren adverte que é necessário estudar o local de instalação para conceber um projeto adequado ao clima local. Desta maneira, é possível reduzir e até evitar a necessidade do ar condicionado. “É difícil e trabalhoso, mas garante que o projeto faça sentido tanto financeiramente quanto como um todo”, analisa.
DESDE 1850
De acordo com Arthur Norgren, o reuso do container na construção civil é tão antigo quanto os próprios containers. “Foram encontrados pedidos de patentes de 1850 para conversão de vagões de trens em restaurantes fixos”, revela.